12/10/2004

Feiras, festivais e demais.

Em Huesca há uma feira de Teatro e Dança. Em Espanha há muitas feiras de Teatro e Dança. Em Portugal não conheço nenhuma. Então fui a Espanha ver o que é isso de uma feira de Teatro e Dança.
Uma mostra e uma montra do que se faz por Espanha e não só, que os muitos programadores espanhóis e estrangeiros presentes procuravam saber, conhecer, promover, divulgar, vender, comprar... Loja aberta até às 5 da manhã durante 6 dias. Programadores, directores de companhias, promotores, críticos, convidados, cruzavam-se diariamente por diversos espaços na cidade e acabavam as noites na sala das Produções Viridiana, onde uma late night session complementava a programação central.
Eram muitos espectáculos e havia sempre público. Tantas coisas diferentes, estilos, géneros, formas de fazer, pensar... boas, más, gosto, não gosto... e a cabeça a andar à roda...
Porque é que não há feiras em Portugal? Só conheço festivais. Se calhar porque não há suficientes interessados em divulgar, fazer circular, vender, comprar, mostrar, discutir o teatro e a dança nacionais. Não sei. Mas devia haver, não? Somos assim tão diferentes nesta Ibéria? Falta de iniciativa? Alguma. Falta de apoios? Óbvio. Não somos bons vendedores? Também. Somos bons compradores? Somos, embora irregulares. Preconceituosos? Um pouco.
A iniciativa em Huesca pertenceu ao Ayuntamento, aqui a quem poderia pertencer? O incentivo financeiro teria que ser público à partida. A promoção da criação artística dentro e fora de portas é um princípio valioso no desenvolvimento da cultura de um país. Assim sendo, justificado está o empenho do Estado na organização de acções deste tipo. O lucro? por exemplo uma maior autonomia financeira de quem produz em relação aos subsídios do Estado. O ganho? Tanto...
Desde o último Festival Danças na Cidade, que em 2002 agitou Lisboa de uma forma imprevisível e contagiante, que poucos foram os que entraram para ver a dança que por aqui se faz. Verdade seja dita, muitos foram os contactos estabelecidos com os programadores e curiosos que visitaram Lisboa por esses dias e escolheram o Tiago Guedes, a Tânia Carvalho, a Sónia Baptista, por exemplo, para se apresentarem em festivais um pouco por todo o lado, França, Bélgica, Áustria, Alemanha, Rio de Janeiro...
A dança contemporânea portuguesa é muito apreciada... por aqueles que a conhecem. Mas muitos mais poderiam ser se regularidade dos festivais e de outras iniciativas congéneres fosse também uma realidade portuguesa, mas não é. Culpa há muita. Mas ninguém a quer.

A internacionalização também se trata dentro de portas.