12/09/2004

Confidencial



Se o Camões já é oficialmente a Casa da Dança não sei, mas que as grandes produções portuguesas por ali passam é um facto. Quando digo grandes produções, distancio-me da grande fatia da dança portuguesa que não realiza àquela escala.
Na sala cheia, o espectáculo começou depois das nove. A fotografia inicial da nova coreografia de Olga Roriz anunciava belas imagens...
Imagens, deixadas em cena, que o tempo de Olga (des)gasta, desmonta, desenlaça. Aguardo, pacientemente. Deixo o tempo avançar, mais imagens.
O que ainda me encanta na Pina Bausch é uma mesma cena ou situação poder dizer tanto e tantas coisas. Tudo se encadeia inteligentemente; as interpretações eclécticas e irrepreensíveis; os corpos que se envolvem incondicionalmente... A Olga desilude-me, esperei melhor. Esperava ver em "Confidencial" um bom exemplar do seu género.
Acompanho o trabalho da Olga há bastante tempo . Não vi alguns dos seus trabalhos mais recentes, confesso. Mesmo assim fui vendo. Assisti à procura de caminhos, elencos, solidez, reconhecimento, de uma companhia de autor... Fui assistindo, aqui e ali, acompanhando de perto e de longe. De quem é este "Confidencial"? Quem é Olga Roriz, agora?
O espectáculo, dividido em duas partes, são várias cenas ligadas pela banda sonora e pelos objectos. Na primeira parte bancos, muitos bancos e antes do intervalo os vasos e as flores, muitos também. Constrói-se e desconstrói-se. Ás vezes há marionetas, sequências rápidas de movimento em uníssono, danças pessoais acompanhadas de um beat techno acelerado, ou a mulher cliché, vestida de cliché que se comporta como cliché ao som de versões de my funny valentine. O dueto entre Adriana Queirós e Pedro Cal prendeu-me finalmente. Como um musical MGM foi o momento menos monótono até ali. Não guardo sequer as belas imagens. Chegou o intervalo, cheguei ao intervalo. Acendem-se as luzes da sala e eles ficam para ali, no palco imenso, a pôr flores em vasos, enquanto timidamente nos levantamos. Saímos? Ficamos? Partimos. Eram onze horas e faltava mais de uma hora para o fim. Já não vi as penas da segunda parte. Perdão, aborreci-me demais para ficar.